Eletrobras e Perspectivas para o Preço de Energia

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Recentemente, adicionamos uma posição em Eletrobras no fundo Versa Genesis utilizando uma estratégia Long & Short. Compramos ações de Eletrobras (ELET3) e vendemos ações de outras empresas do setor para financiar a posição com os recursos gerados pelas vendas a descoberto (short). Esta é a primeira posição Long & Short no fundo Versa  Genesis, portanto, é importante explicar o motivo desta estratégia, além da escolha pela Eletrobras.

A estratégia Long & Short ajuda a mitigar parte do risco direcional do fundo, pois o risco da exposição é o valor relativo das ações. Isso significa que o resultado da posição não depende diretamente da alta ou queda do mercado, mas de quanto uma ação desempenha em relação à outra. Atualmente, a posição Long & Short representa um risco pequeno no fundo Versa Genesis (menos de 10% da volatilidade total do fundo). Assim, o principal contribuidor para o resultado do fundo continua sendo as posições compradas. A escolha pelo Long & Short ao invés do Direcional tem o objetivo de ter exposição ao preço de energia no horizonte de 3 anos e mitigar o risco do preço de energia no longo prazo.

As geradoras que podem ser hidrelétricas, térmicas a gás, carvão, usinas eólicas, solares ou nucleares vendem sua energia disponível de antemão via contratos de longo prazo, porém quando não vendem toda a energia que produzem tem a energia excedente liquidada a PLD (preço de liquidação de diferenças) que é o preço de energia no mercado à vista. Assim como um grande consumidor de energia que consome mais que os contratos de energia que comprou tem que pagar PLD na energia excedente que consumiu. 

Atualmente, devido a um período chuvoso um pouco melhor nos últimos dois anos, o PLD ficou próximo do piso desde o ano de 2022. Nos últimos meses o PLD saiu do mínimo devido a uma demanda por energia maior e chuvas menores que o esperado. Isso, na nossa visão, deve aumentar a demanda de grandes consumidores de energia por fecharem contratos para cobrir a exposição ao mercado à vista nos próximos anos.      

As usinas hidrelétricas, maiores fontes geradoras do Brasil, funcionam como uma grande bateria. Quando as usinas eólicas e solares estão gerando energia a todo vapor, as hidroelétricas diminuem a vazão e poupam água dos reservatórios, fazendo uma reserva de energia. Quando cai a noite, as usinas solares deixam de gerar energia e as hidrelétricas aumentam a vazão e geram mais energia para compensar o déficit. Quando ainda assim a geração é insuficiente para atender a demanda, ou os reservatórios esvaziam demais, as usinas térmicas a gás, carvão e até mesmo diesel, mais caras e poluentes, são acionadas para suprir o mercado. Devido ao aumento de fontes de energia intermitente na matriz energética do Brasil o PLD tem oscilado mais durante o dia, o que beneficia as hidrelétricas que podem gerar energia a qualquer momento. Uma oscilação maior do PLD, assim como um PLD acima do piso, leva, normalmente, a um aumento dos preços de contratos de energia para o curto prazo. 

Como falamos anteriormente, estamos enfrentando chuvas piores que o esperado e uma demanda por energia maior, o que tem pressionado o mercado à vista de energia. Existe a possibilidade de esses preços de energia aumentarem ainda mais devido a chuvas mais escassas no período úmido, o que beneficiaria a Eletrobras, que possui o maior percentual de energia descontratada entre todas as geradoras da bolsa.

Desde a privatização, tivemos uma visão cética sobre as concessões feitas pela Eletrobras ao governo para ser vendida ao setor privado. As expectativas de resultados para os anos futuros eram ruins, devido à perspectiva de menores preços de energia e, especificamente para Eletrobras, uma despesa financeira maior do que o mercado antecipava devido às obrigações assumidas pela empresa no momento da privatização. Com isso não possuíamos ações da Eletrobras, mesmo sendo o Genesis um fundo especializado em infraestrutura. Atualmente no fundo temos uma exposição elevada a empresas de distribuição, como Energisa, Neoenergia e CPFL. 

Ambas as estimativas estavam, em geral, corretas. Uma temporada de chuvas um pouco melhor que nos últimos anos, mas ainda abaixo da média de longo prazo (MLT), fez o preço de energia no mercado à vista (PLD) colapsar para o piso, e as despesas financeiras e o pagamento de compulsórios resultaram em uma geração de caixa pior do que o esperado em 2023. A dívida líquida da empresa saltou de R$34bn para R$42bn sendo que a empresa despendeu apenas R$3bn em dividendos e recompras de ação no período.

A pressão atual no preço de energia de curto-prazo, no entanto, nos fez rever as estimativas. Abriu-se uma janela para a Eletrobras vender a energia descontratada a um preço melhor. Sendo a geradora com o maior percentual de energia descontratada entre todas, a Eletrobras deve ser a maior beneficiária entre os pares. 

No lado short, selecionamos algumas geradoras de energia com a intenção de diminuir a exposição ao preço de energia a longo prazo, que, na nossa visão, deve continuar pressionado para baixo devido a (i) incentivos do governo, como desconto na taxa de transmissão e vantagens da autoprodução*, que fazem com que o preço de energia a longo prazo não convirja para o custo marginal de expansão, e (ii) o continuação da tendência de expansão de geração distribuída devido ao menor preço das placas solares.

Hoje, o fundo Versa Genesis tem uma posição Long de 20% em Eletrobras (ELET3) e 20% short em algumas empresas de geração de energia.

*O regime de autoprodução permite ao autoprodutor não pagar encargos de políticas públicas sobre a energia que consome. Porém, um arranjo usado atualmente no setor permite que empresas consigam esse benefício investindo muito pouco, ou nada, na construção da capacidade de geração e participando do arranjo apenas com um contrato de longo prazo de compra de energia. Isso leva a adição de capacidade adicional e uma diminuição da base que arca com os subsídios que compõem o preço de energia atual pago pelos consumidores.