Entenda sobre a Teoria Comportamental – Parte 1

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A teoria comportamental trata as pessoas como elas são, que contrasta com a teoria econômica tradicional que trata as pessoas como elas deveriam ser, fornece diversos insights sobre as nossas ações diante de nossos investimentos e também sobre o comportamento dos agentes de mercado. A melhor maneira de evitarmos os erros causados por nossos vieses naturais e melhorar nossos resultados é conhecer tais vieses a fim de identificar e superar nossas irracionalidades. Explicamos melhor nessa série de 3 artigos.

A teoria econômica tradicional assume que os seres humanos são completamente racionais, avessos ao risco e agem apenas de acordo com seu próprio interesse, ou seja, são egoístas. Além disso, ela assume que os indivíduos consideram toda a informação disponível e que os mercados são eficientes. Em outras palavras, essa teoria trata as pessoas de acordo com como elas deveriam se comportar.

Adam Smith, Milton Friedman, Paul Samuelson, Robert Lucas, e muitos outros economistas tradicionais tiveram grande mérito em reconhecer que a natureza do ser humano é agir em seu próprio interesse, mas será que estavam sob efeito do viés da representatividade (um erro cognitivo) quando assumiram que todos seres humanos seriam tão racionais quanto eles? Veja bem, a teoria tradicional foi extremamente importante para o surgimento de diversas aplicações práticas em economia e finanças, mas fica claro que as hipóteses por trás da teoria são bastante fortes, o que foi gerando a necessidade da criação de uma teoria que endereçasse alguns dos pontos cegos da teoria tradicional.

Nesse contexto surgiu a teoria comportamental, que trata as pessoas de acordo com como elas de fato são, e não como deveriam ser. Psicólogos, economistas e diversos outros pesquisadores demonstraram que as pessoas, quando colocadas em situações complexas podem tomar decisões sistematicamente subótimas e criaram um arcabouço teórico para descrever e endereçar essas situações.

A categorização mais ampla dos vieses os separam em dois grandes grupos: (1) erros cognitivos e (2) vieses emocionais. No segundo artigo dessa série trataremos mais a fundo sobre os erros cognitivos, e no terceiro artigo vamos detalhar mais os vieses emocionais. Por ora, vamos tratar sobre a diferença entre essas duas grandes categorias. A distinção entre as duas categorias é razoavelmente fácil e simples de entender, mas é de extrema importância para compreender a maneira mais efetiva de tratar e corrigir o viés.

Os erros cognitivos são erros de memória, de processamento de informações e de estatística básica que acabam levando a decisões que desviam da decisão ótima sugerida pela teoria econômica tradicional. Já os vieses emocionais ocorrem de maneira espontânea como resultado dos nossos sentimentos e também levam a decisões distintas daquelas sugeridas pela teoria tradicional.

Por se tratar de nossos sentimentos, algo intrínseco a nós seres humanos, os vieses emocionais são mais difíceis de serem corrigidos do que os erros cognitivos. Isso porque os indivíduos têm mais facilidade de modificar seus processos e adaptar seu comportamento se a origem do problema puder ser identificada de maneira lógica.

Como os erros cognitivos têm sua origem em falhas de lógica, a correção desses erros pode ser atingida através de informação, educação e até por meio do conselho de outras pessoas que identifiquem a falha no raciocínio. Ou seja, os erros cognitivos podem não apenas serem mitigados como muitas das vezes podem ser completamente eliminados se o indivíduo tomar ciência da causa do problema.

Os vieses emocionais, por outro lado, tem sua origem nos nossos sentimentos e na nossa intuição. Isso faz com que seja muito mais difícil corrigir esses vieses, já que o problema surge espontaneamente sem qualquer esforço lógico-consciente. No mundo dos investimentos muitas vezes as emoções podem atrapalhar o investidor na tomada de decisão e o fato é que por mais que tentemos controlar nossas emoções, isso nem sempre é possível. Por isso, a melhor alternativa é entender nossos vieses, reconhecê-los e ajustar nosso processo de investimento, ao invés de ignorar ou tentar eliminar as emoções.

E aí? Está convencido de que a teoria comportamental pode te ajudar a tomar melhores decisões de investimento? Nos próximos dois artigos iremos detalhar mais os erros cognitivos e os vieses emocionais mais comuns no mundo dos investimentos, não perca!